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INTERPRETANDO AS EPÍSTOLAS – PARTE II

Na aula anterior nós procuramos primeiramente o sentido do texto para os leitores daquela época, para os quais foi primariamente escrito. Ou seja, o texto deveria fazer sentido para aquele povo, não poderia haver algum significado fora da realidade daquela época. A este exercício, o de descobrir o significado que o texto tinha, chamamos de exegese.

Nesta lição, vamos aplicar o que chamos de Hermenêutica: a interpretação dos escritos para a nossa realidade.

A primeira dificuldade é que, diferentemente da exegese, que é a investigação dos fatos que se sucederam, a hermenêutica pode ter muitas variantes. Ainda que nem todos pratiquem a exegese, ou seja, não investigam a fundo quais eram as implicações culturais e socio-políticas da época, por outro lado, todos praticam a hermenêutica.

O objetivo desta aula é ver o que há em comum entre todos os crentes com relação à hermenêutica, ou seja, o que cada grupo de crentes têm em comum na interpretação das epístolas. A grande diferença entre os vários grupos de crentes é com relação à cultura: o que deve ser mantido para nós e o que deve ser considerado um costume apenas do povo no século I?

1 A Interpretação comum de todos nós

Mesmo que você não soubesse que este curso chama-se hermenêutica, você a pratica todo o tempo que lê a Bíblia. Afinal, quando lemos a Bíblia trazemos nosso bom senso e aplicamos o texto à nossa realidade, e aquilo que não se aplica a nós nesta época, descartamos.

Vamos ler II Tm. 4:13. Quantos de nós nos sentimos obrigados a obedecer este mandamento? E isto é claramente um mandamento. Na mesma carta no capítulo 2 versículo 3, somos exortados a sofrer como bons soldados de Cristo, mesmo muitas vezes relutando em obedecer este mandamento.

A maioria dos textos do Novo Testamento se encaixam nesta categoria do bom senso. Nossos problemas se encontram nos textos que fogem deste bom senso. Uns acham que devem obedecer exatamente o que está escrito, outros já não têm tanta certeza. Quando interpretamos um texto, trazemos muito de nossa herança teológica e cultural. Isto nos faz “selecionar” certos textos e contornar outros.

A maioria de nós concorda quanto à posição acerca de II Tm. 2:2 e 4:13. Porém, estes mesmos cristãos poderão argumentar contra I Tm. 5:23. Eles dizem esar relacionado somente a Timóteo, e não aos outros cristãos. Ou então, Paulo recomendou vinho pois a água não era muito confiável naquela época, diferente de hoje. Ou ainda que vinho queria dizer, na realidade, suco. Agora, por que esta recomendação de beber vinho é endereçada somente a Timóteo, enquanto que a exortação a permanecer na palavra (II Tm. 3:14-16), que também foi endereçada a Timóteo, serve para todos os cristãos em todos os tempos?

Um outro problema frequente em algumas igrejas é o fato de aplicarem o texto de I Coríntios 11:14 aos homens, quanto ao cabelo comprido; porém não aplicam o texto do versículo 13 às mulheres. Ou antes, as deixam cortar o cabelo até ficarem curto.

Estes dois exemplos ilustram como a cultura influencia no bom-senso em nossa interpretação. Mas a tradiçao eclesiástica também dita o bom-senso que deve ser aplicado em nossa interpretação. Algumas igrejas proibem as mulheres de falarem nos cultos com base em I Coríntios 14:34-35. Porém, todas as outras coisas citadas no capítulo 14 é contra-argumentado como não pertencente ao nosso século, são coisas que eram específicas para a Igreja do século I. Como é que os versículos 34-35 podem pertencer ao nosso tempo, mas os versículos 1-5 ou 26-33 e 39-40, que estão no mesmo contexto, pertencem à igreja do século I?

Alguns cristãos acham apoio nas escrituras para o batismo de crianças em I Coríntios 1:16 ou 7:14.

Para muitos na tradição arminiana, que enfatiza o livre arbítrio do homem com relação à salvação, os textos de Rm. 8:30, 9:18-24, Gl. 1:15 e Ef. 1:4-5 são uma pedra no sapato. Porém, os calvinistas tem suas próprias maneiras de contornar textos como II Pe. 2:20-22 e Hebreus 6:4-6.

Baseados nestes problemas, que tipo de diretrizes e parâmetros nós precisamos a fim de estabelecer uma hermenêutica mais consistente?

2  A Regra Básica

Lembrem-se de que já falamos que um texto não pode significar algo que não faria sentido, tanto para o escritor quanto para o leitor. Esta regra não ajuda a descobrir o significado de um texto, porém nos ajuda, dizendo o que um texto não pode significar.

Vamos pegar I Coríntios 14. A justificativa mais comum para desconsiderar alguns dos dons espirituais é o versículo 13:10.

Na interpretação comum somos informados que o que é perfeito já veio, na forma do Novo Testamento, e portanto, parte destes dons, a profecia e as línguas cessaram de funcionar na igreja. mas isso é uma coisa que o texto não pode significar, pois os leitores desta carta não sabiam naquela época, que haveria de existir um Novo Testamento. E o Espírito Santo não deixaria Paulo escrever uma coisa que soasse incompreensível aos Corintios daquela época.

3  A Segunda Regra

A segunda regra é um modo diferente de expressar nossa hermenêutica comum. Sempre que temos situações de vida comuns, comparáveis aos nossos dias, a plava de Deus para nós é a mesma que era para eles no século I. Ainda é verdade que todos pecamos, que somos salvos pela graça. Revestir-nos de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longaminidade, ainda é a Palavra de Deus para os que são crentes.

Os textos de I Coríntios e Filipenses, estudados na aula 08, parecem ser deste tipo. Fizemos nossa pesquisa e chegamos à conclusão de que ainda temos igrejas locais, cujos líderes devem servir com zelo, escutar a Palavra e cuidar da forma como edificam a igreja. 1 Coríntios ainda é aquilo que Deus nos fala quanto às nossas responsabilidades perante a igreja local. Esta deve ser um local onde se sabe que o Espírito Santo habita, e que portanto, é a alternativa de Deus ao pecado do mundo.

O que mais exige cuidado é a reconstrução do problema deles, naquela época. Devemos ter certeza de que os pormenores são os mesmos. Para nossa hermenêutica, é importante saber que o processo jurídico entre dois irmãos, era iante de um juíz pagão, lá na praça pública. A lição aqui não muda se o processo é relizado dentro de um tribunal fechado. Pois, os versículos 6-11 nos deixa claro que é errado dois irmãos irem à justiça, fora da Igreja. Agora, poderíamos dizer que este versículo não se aplica a um cristão processando uma Empresa, pois neste caso os pormenores mudam. Apesar que a pessoa deveria considerar o apelo de Paulo para assim não o fazerem, seguindo o exemplo de Jesus, conforme nos diz o versículo 7.

Bom, tudo isto parece relativamente simples. Porém qual deve ser o limite de aplicação dos pormenores dos textos bíblicos, em nossa vida hoje?

Vamos verificar, ainda nesta Aula, quatro problemas deste tipo.

4  O Problema da Aplicação Extendida

Se há contextos comparáveis em nossos dias ao século I, é legítimo extender a aplicação a outros contextos, ou fazer o texto aplicar-se a um contexto totalmente diferente do século I?

Por exemplo, argumentamos que I Coríntios 3:16-17 se refere à igreja local, também apresenta o princípio de que aquilo que Deus separou pela habitação de seu Espírito Santo é sagrado, e que quem o destrói está sujeito ao terrível julgamento de Deus. Este mesmo princípio não pode ser aplicado ao crente que abusa do seu próprio corpo? De igual modo, I Coríntios 3:10-15 fala àqueles que edificam a igreja, e avisa sobre o prejuízo que sofrerão os que constroem mal. Já que o texto fala sobre a salvação “como que através do fogo”, podemos usar este texto para ilustrar a segurança do crente?

Veja bem, estas interpretações erradas têm sido feitas a séculos! Paulo, neste contexto está tratando da igreja local, então não podemos aplicar este texto ao crente individualmente. Quanto à segurança do crente, este texto não é o mais forte, o mais recomendado, pois o contexto na época era outro.

Podemos dizer então que a aplicação deve ser limitada à intenção original, quando há situações comparáveis. Então, na aplicação estendida, quando há outras passagens apoiando esta aplicação, podemos tê-la como legítima.

Uma passagem mais dificil é II Coríntios 6:14, que têm sido geralmente interpretado como uma proibição ao casamento entre um cristão e um não-cristão. A metáfora de jugo era raramente usada para casamento, e não há nada no contexto desta passagem que indique que o casamento seja a questão. Provavelmente tinha algo a ver com as festas idólatras. Porém, podemos estender este princípio ao casamento, visto ser um princípio bíblico que pode ser sustentado à parte deste único texto.

5  O Problema das características que não são comparáveis

Nesta categoria há dois tipos de problemas:

1 – Questões do século I que não tem equivalentes no século XXI.
2 – Problemas que poderiam surgir no século XXI, mas que são altamente improváveis.

O que devemos fazer nestes casos?

Um exemplo disso é o texto de I Coríntios 8 – 10, onde Paulo se dirige a três tipos de questão:

1 – Cristãos que argumentam sobre continuar a acompanhar seus vizinhos pagãos nas festas nos templos dos ídolos (8:10)
2 – A dúvida que lançavam sobre a autoridade apostólica de Paulo (9:1-23)
3 – O alimento sacrificado aos ídolos, que depois era vendido no mercado (10:23-11:1)

Fazendo a exegese destas passagens, vemos que Paulo responde da seguinte maneira:

1 – São proibidos de frequentar tais festas e comer alimentos oferidos aos ídolos, por causa da consciência dos mais fracos (8:7-13) e significa tomar parte no que é demoníaco (10:19-22)
2 – Paulo defende seu direito ao apoio financeiro, mas abriu mão deste; além disso defende suas ações (9:19-23)
3 – O alimento que foi sacrificado, vendido no mercado, pode ser comido, inclusive no lar de outra pessoa. Porém, se for causar algum problema de consciência, deve ser recusado.

Pode-se comer qualquer coisa para a glória de Deus, mas não se deve fazer algo que venha a ofender alguém.

O problema aqui é que não existe, em nossa cultura hoje, este tipo de idolatria. Então os problemas 1 e 3 não existem. E quanto ao problema 2, já não temos mais apóstolos no, sentido do Novo Testamento, de pessoas que se encontraram pessoalmente com Jesus ressurreto (9:1).

O outro tipo de problema, os de acontecimento altamente improvável, pode ser ilustrado por:

1 – Pessoas embriagadas na Ceia do Senhor (11:17-22)
2 – Pessoas que querem forçar alguns irmãos a se circuncidar (Gl. 5:2)

Estas coisas poderiam acontecer, mas são altamente improváveis em nossa cultura.

A grande questão é: como a resposta a estes problemas, que afligiam a igreja no século I, podem ser relevantes a nós, tanto tempo depois e em outra cultura?

A hermenêutica deve seguir dois passos:

1 – Devemos fazer nossa exegese com muito cuidado, pois devemos ouvir aquilo que a Palavra de Deus era para eles. E na maioria dos casos um principio foi dado, que geralmente vai além da particularidade histórica à qual estava sendo aplicado.

2 – Este “princípio” não deve ser aplicado a toda e qualquer situação, porém a situações genuinamente comparáveis.

Vamos ilustrar estas considerações.

Paulo proíbe a participação nas festas pagãs com base no princípio da pedra de tropeço.

Porém, isto é algo que simplesmente ofende a um irmão. Isto se aplica ao caso de um irmão, com boa consciência, convence outro irmão a fazer; porém este irmão não consegue fazê-lo com ba consciência. Então este segundo irmão é destruído por imitar a ação do primeiro irmão. Ou seja, não foi simplesmente ofendido.

Outra consideração de Paulo, foi o fato de não participarem de festas pagãs, pois estariam se associando aos demônios. Então podemos dizer que esta é uma proibição aos cristãos de participarem de todo tipo de astrologia, bruxaria, espiritismo, etc.

Embora não tenhamos apóstolos, nem pensamos que nossos pastores estejam na sucessão apostólica, o princípio de que “os que pregam o evangelho, vivam do evangelho” (I Co. 9:14), parace ser aplicável ainda hoje.

O problema de comer carne oferecida aos ídolos apresenta uma dimensão dificil deste princípio. Para Deus, e para Paulo isto, era uma questão indiferente. Porém não era para outras pessoas. Era o mesmo caso da observância de certos dias em Romanos 14 e Colossences 2:16-23.

O problema para nós é como distinguir questões indiferentes de questões importantes. Mesmo porque existem coisas que se diferem entre culturas e entre grupos cristãos. A lista abrange desde estilo de vestimentas, estilos musicais, recreação, ornamentos e até esportes. As pessoas que veem nestas coisas algum valor espiritual, pensam que a abstinência de quaisquer uma destas coisas se constitui em santidade diante de Deus, não apenas mera indiferença.

O que torna alguma coisa uma questão indiferente? Podemos seguir as seguintes sugestões:

1 – Aquilo que a Bíblia diz ser uma questão indiferente, podemos ainda considerá-la indiferente: comida, bebida, guardar determinados dias, etc.

2 – Questões indiferentes não são morais, mas sim culturais, mesmo que seja a cultura religiosa. Questões que endem a se diferir entre uma cultura e outra, mesmo entre grupos de crente genuínos, podem ser consideradas como indiferentes.

3 – As listas de pecados nas Epístolas (Rm. 1:29-30; I Co. 5:11; I Co. 6:9-10; II Tm. 3:2-

4) nunca incluem os equivalentes do século I dos itens que mencionamos acima. Além disso estes equivalentes não estão incluídos nos mandamentos cristãos (Rm 12; Ef. 5; Cl. 3; etc.)

Este é um terreno perigoso, muitas igrejas já foram divididas por questões como estas.

Entretanto, de acordo com Romanos 14, as pessoas dos dois lados não devem julgar umas às outras. A pessoa livre não deve fazer alarde de sua liberdade; a pessoa para quem estas não são questões indiferentes não deve condenar outra pessoa.

6  O Problema da relatividade cultural

Esta é a área com maior dificuldade hoje em dia. A Palavra Eterna de Deus tem sido substituída pelas questões culturais.

Quase todos os cristãos, pelo menos até certo grau, traduzem a Bíblia para novos contextos. E é por causa disto que muitos deixam “um pouco de vinho, por causa do seu estômago” no século I, e também não insistem que as mulheres tenham cabelos compridos e nem cumbram mais a cabeça, e não praticam o “ósculo santo”. Porém, muitos destes mesmos cristãos estremecem quando uma mulher ensina na igreja ou quando um homem deixa seu cabelo comprido.

Alguns ainda têm tentado estabelecer a cultura do século I em nosso século. Mas como estabelecer os parâmetros corretos para nós, baseados na cultura do século I? Como conservar suas filhas em casa, negar-lhes a educação superiror, combinar seu casamento?

É muito dificil ser coerente neste aspecto, exatamente porque não existe uuma cultura mais santa do que outra. As culturas são realmente diferentes, não apenas entre o século I e o século XXI, mas entre as próprias culturas do século XXI.

Então, ao invés de rejeitarmos a cultura, ou partes dela, sugere-se conhecer as culturas, para que o processo de interpretação bíblica ocorra dentro de limites conhecidos.

Como forma de distinguir entre os itens culturalmente relativos e aqueles que são realmente eternos e imutáveis, estabelece-se as seguintes regras (estas regras não são fechadas, devem ser estudas e discutidas):

1 – Devemos distinguir entre o âmago da Bíblia e as questões perféricas. Temos que evitar que o evangelho se transforme numa lei por meio da cultura ou costume religioso.

Assim, desta forma, a obra graciosa de Deus, demonstrada na cruz por meio de Jesus Cristo, sua morte e ressurreição, sua volta gloriosa para nos leval ao lar celestial, são parte deste âmago, parte central da Bíblia, que é independente de cultura.

Agora, o ósculo santo, as cabeças cobertas das mulheres, o comprimento dos cabelos, ministérios e dons carismáticos, parecem ser mais periféricos.

2 – Devemos estar dispostos a diferenciar o que o Novo Testamento vê como essencialmente moral, e aquilo que não é. Os aspectos essencialmente morais são absolutos, e portanto permanecem, independente da cultura. Agora, aquilo que não é essencialmente moral, pode mudar de cultura para cultura, sem necessariamente ser considerado uma doutrina.

As listas de pecados que Paulo faz nunca contém elementos culturais. O adultério, a idolatria, a embriaguez, a atividade homossexual, o furto, a avareza, a fofoca, a mentira, são sempre errados, seja qual for a cultura.

Do outro lado, o ósculo santo, mulheres usando véu, enquanto oram ou profetizam, a preferência de paulo pelo celibato, o ensino pelas mulheres na igreja, não são questões essencialmente morais. Tornam-se pecado somente quando alguma destas questões envolver desobediência ou falta de amor.

3 – Devemos tomar nota dos itens que o Novo Testamento é uniforme. Os seguintes são exemplos de questões onde o Novo Testamento dá testemunho uniforme: o amor como resposta básica do cristão, a política de não-retaliação (dar a outra face), o erro da contenda, do ódio, do assassínio, da embriaguês e imoralidade sexual de todos os tipos.

Por outro lado, o Novo Testamento não parece ser uniforme com relação ao ministério das mulheres na igreja. Veja o caso de Febe, em Rm. 16:1, que servia à igreja de Cencréia. Priscila era uma das cooperadoras de Paulo (Rm. 16:3). O mesmo acontece com os alimentos oferecidos aos ídolos. Compare I Co. 10:23-29 com At. 15:29.

Estas são questões culturais, dependentes de determinado contexto histórico e geográfico, não sendo portanto, uma questão moral.

4 – É importante, dentro do Novo Testamento, saber distinguir entre o princípio e a aplicação específica. Vejamos o caso de I Coríntios 11:2-16. Paulo começa apelando à ordem divina de criação, e estabelece o princípio de que não devemos fazer nada que diminua a glória de Deus quando a comunidade está em adoração (vv. 7-10). A aplicação específica, no entanto, parce ser relativa, já que Paulo faz menção repetidas vezes ao “costume” e à “natureza” (vv. 6, 13-14, 16).

5 – É importante sabermos determinar as opções culturais no mundo neo testamentário. Geralmente, naquela época, havia somente uma única opção cultural, e isso só faz aumentar o grau de relatividade neste aspecto cultural. Por exemplo, notem que nenhum escritor do Novo Testamento faz qualquer menção à escravidão como sendo um mal, e o papel das mulheres era basicamente inferior ao dos homens. Porém, por outro lado, os escritores avançam bastante, em relação à socidade da época, com relação à atitude para com as mulheres, e o homossexualismo era visto como uma prática contrária aos ensinos cristãos. Mas em todo caso, quando refletem as atitudes culturais nestas questões, estão apenas refletindo, geralmente, a única opção cultural da época.

6 – Devemos estar alertas para as grandes mudanças culturais entre o século I e o século XXI. Isso pode mudar a forma como interpretamos a Bíblia. Ainda na questão do ensino pelas mulheres na igreja, devemos levar em conta que havia poucas oportunidades de estudo para as mulheres no século I. E a educação é o primeiro passo para podermos ensinar alguém. Pensando desta maneira, a nossa interpretação de I Timóteo 2:9-15 pode mudar. Outro exemplo é o de Romanos 13:1-7. No século I não havia o governo democrático, com a participação de todos. Nos dias de hoje, espera-se que os maus governantes sejam depostos, e isto muda nosso modo de interpretar Romanos 13 no século XXI.

7  O Problema da Teologia Prática (de Tarefa)

Notamos na aula passada que boa parte da teologia das Epístolas é orientada a tarefas. Porém, uma das tarefas “obrigatórias” do estudante bíblico é apresentar este teologia de modo sistemático, e devemos sempre reconhece que muitas vezes a teologia de determinado escritor está implícita em suas declarações.

Queremos aqui esclarecer alguns pontos enquanto realizamos a tarefa da teologia.

Algumas precauções que devemos tomar, até por causa da natureza ocasional das Epístolas.

1 – Justamente por conta desta natureza ocasional devemos nos contentar com nossas limitações teológicas. Não teremos respostas para todas as perguntas. Por exemplo, em I Coríntios, quando Paulo fala do absurdo que é um irmão levar outro ao tribunal pagão (I Co. 6:2-3), Paulo diz que todos os salvos haverão de julgar o mundo e os anjos. Além disso, o texto não diz mais nada. Podemos com isso apenas crer que os cristãos farão julgamentos no Juízo Final, e apenas isto, o resto é pura especulação.

2 – Às vezes queremos encaixar nossas perguntas a determinados textos, quando na realidade a questão não havia sido ainda levantada. Quando indagamos ao texto que fale à questão do aborto, da eutanásia, células tronco, estamos querendo que respondam às perguntas de um período posterior. Às vez e até possível isso acontecer, porém não o farão frequentemente, simplesmente porque não existiam estas questões no século I. Há um claro exemplo disso no Novo Testamento em I Coríntios 7:10, querendo dizer que o próprio Jesus dera uma explicação à pergunta feita. Agora se o mesmo problema acontecesse na sociedade grega Paulo responde: “eu, não o Senhor” (v. 12). Claro que nós não possuímos a mesma autoridade apostólica de Paulo para questões semelhantes, mas devemos tentar trazer uma cosmovisão bíblica para o problema.

Estas são algumas sugestões para lermos e interpretarmos as Epístolas, porém o estudo sistemático continua, e o uso de dicionários, comentários e chaves bíblicas se fará constantemente necessários.

INTERPRETANDO AS EPÍSTOLAS – PARTE I

A partir desta lição começaremos a estudar os diferentes gêneros de literatura que compoem a Bíblia. Começaremos estudando as Epístolas. A razão para isto é que elas totalizam quase 50 por cento do Novo Testamento. Aparentemente parece ser fácil sua interpretação, afinal que mistério há em se compreender que todos pecaram e estão afastados da glória de Deus (Rm. 3:23)? Ou então qual a dificuldade na interpretação de que o salário do pecado é a morte (Rm. 6:23)? E ainda não temos dificuldade de entender que somos salvos pela graça por meio da fé (Ef. 2:8), não é mesmo?

Bom, para nosso estudo das Epístolas vamos usar como modelo I Coríntios. E em nosso objeto de estudo devemos tomar a opinião de Paulo como sendo Palavra de Deus (7:25)? E no caso da exclusão de um membro? Como isto se aplica hoje em dia quando há tantas igrejas, que basta apenas atravessar a rua (capítulo 5)? E como ficam as mulheres? Devem ou não usar véu nos dias de hoje?

Estes e outros exemplos serão estudados para sabermos como interpretar estes escritos de 2 mil anos que usamos ainda hoje.

1 A natureza das epístolas

Antes de comerçarmos a estudar I Corintios como nosso modelo vamos primeiro analisar a estrutra de uma carta, que contém, em geral, as seis partes seguintes:

1- o nome do escritor (ex. Paulo)
2- o nome do endereçado (ex. à Igreja de Deus em Corinto)
3- a saudação (ex. Graça a vós outros e paz da parte de nosso Deus e Pai…)
4- oração (ex. Sempre dou graças a Deus a respeito de vós…)
5- o corpo
6- a saudação final e despedida (ex. a graça do Senhor seja convosco)

Algumas cartas podem fugir um pouco deste padrão; é o caso da carta aos Hebreus.

Notemos que o autor pula todas as quatro primeiras partes e vai direto ao assunto. Vamos perceber também, durante a leitura, que esta carta não assume um tom muito pessoal, como muitas das cartas de Paulo por exemplo.

A carta de I João também não possui os elementos formais de uma carta comum, e assim como o autor de Hebreus, João parte diretamente ao assunto.

Tiago e II Pedro começam como cartas, tem os elementos iniciais, porém lhes falta a saudação final.

Estas cartas todas, parecem ter sido realmente escritas para um público geral, e não para alguém em particular.

Algo que todas as cartas têm em comum é o fato de serem ocasionais. Ou seja, embora tendo a ação do Espírito Santo, e servindo para nós nos dias de hoje, foram inicialmente escritas para o povo do século I. Esta é a maior dificuldade que encontramos na interpretação destes escritos. Como contextualizarmos os mandamentos para nós do século XXI ? Nas próximas lições vamos aprender como estudar e interpretá-las corretamente.

2  O contexto histórico

A primeira coisa a ser feita antes de comerçarmos a estudar e interpretar a Carta aos Coríntios é nos perguntar o que levou Paulo a escrever uma a eles. Outra coisa é procurarmos saber o máximo possível sobre a localidade onde viviam. Sabemos que pelos padrões da época Corinto era uma cidade relativamente nova. Devido à sua localização estratégica cresceu muito comercialmente, e era uma cidade bastante religiosa, com diversos templos de deuses espalhados pela cidade. Além disso, era uma cidade com muita cultura e sobretudo rica. Fazendo então uma análise rápida, podemos dizer que Corinto era uma mistura de Rio de Janeiro, São Paulo e Aparecida do Norte. Ou seja, não foi uma carta escrita para uma cidade do interior de Roraima. Mantendo estes dados em mente, nossa compreensão do assunto da carta será muito mais proveitoso.

A segunda coisa é tomarmos um tempo para lermos a carta toda de uma única vez. Afinal este é o processo de leitura quando lemos uma matéria no jornal ou um e-mail. Não tente nesta primeira leitura achar o significado de cada palavra ou frase, por hora é apenas a visão panorâmica que nos interessa. Podemos sim, anotar algumas coisas nesta primeira leitura:

1- o que está escrito sobre os endereçados? São judeus, gentios, ricos, escravos? Quais os seus problemas e atitudes?
2- as atitudes de Paulo
3- quaisquer coisas específicas na ocasião em que a carta foi escrita.
4- as divisões lógicas da carta.

Claro que, se mesmo isso for demais para esta primeira leitura, isto pode ser feito durante o estudo, depois da primeira leitura.

Com base na estrutura apresentada acima, podemos ter notado as seguintes coisas:

1-Os crentes coríntios eram principalmente gentios, mas haviam alguns judeus também (6:9-11; 8:10; 12:13). Gostavam de sabedoria e conhecimento (1:18 – 2:5; 4:10; 8:1-13; ). Eram orgulhosos e arrogantes (4:18; 5:2-6), até ao ponto de julgarem Paulo (4:1-5; 9:1-18)
2- A atitude de Paulo variou entre a repreensão (4:8-21; 5:2; 6:1-8), o apelo (4:14-17; 16:10-11) e a exortação (6:18-20; 16:12-14)
3- Vemos em 1: 10-12 que Paulo foi informado por pessoas da família de Cloé. Em 5:1 também nos diz informações relatadas. Em 7:1 vemos que Paulo havia recebido uma carta deles. Notamos também que haviam alguns itens nessa carta, conforme 7:25, 8:1, 12:1, 16:1 e 16:12.
4- Quanto às divisões lógicas da carta, vemos que 7:1 é a primeira vez que Paulo menciona a carta recebida. Neste caso, podemos supor que os capítulos 1 a 6 são respostas daquilo que foi relatado a Paulo. As frases introdutórias e os assuntos abordados nos dão base para propor as seguintes divisões:

ð o problema das divisões na igreja (1:10 – 4:21)
ð o problema do homem incestuoso (5:1-13)
ð o problema dos processos jurídicos (6:1-11)
ð o problema da fornicação (6:12-20)

A maior parte do conteúdo entre o capítulo 7 e o 16 é resposta à carta recebida, como podemos ver pela expressão usada por Paulo “Ora, quanto ao…”. Os itens que não são introduzidos por esta expressão são três: 11:2-16, 11:17-34 e 15:1-58. Talvez os itens do capítulo 11 também foram relatados a ele (ao invés de ter tomado conhecimento por meio da carta recebida), mas foram incluídos aqui porque tudo, desde o capítulo 8 até o capítulo 14 trata da adoração de forma geral. O capítulo 15 fica dificil saber se é uma resposta ao que foi relatado a ele, ou se é resposta à carta que mandaram. O versículo 12 não ajuda muito neste sentido, pois Paulo pode estar citando um relato, ou a carta deles.

Seja como for, o restante da carta pode ser facilmente esboçado:

ð o comportamento dentro do casamento (7:1-24)
ð as virgens (7:25-40)
ð a comida sacrificada aos ídolos (8:1-11:1)
ð as cabeças cobertas das mulheres na igreja (11:2-16)
ð os abusos na Ceia do Senhor (11:17-34)
ð os dons espirituais (12-14)
ð a ressurreição dos crentes (15:1-58)
ð a coleta (16:1-11)
ð a volta de Apolo (16:12)
ð exortações e saudações finais (16:13-24)

O único outro lugar nas cartas de Paulo que ele escreve em forma de resposta de itens independentes é I Tessalonicenses 4-5.

Vamos concentrar nossos estudos no problema da divisão na igreja: capítulos 1 – 4.

3 O contexto histórico de I Coríntios 1 – 4

Antes de mais nada vamos elaborar uma lista de atividades a fim de estudarmos cada uma das seções menores da carta:

1-     Leia I Coríntios 1-4 pelo menos duas vezes, em duas traduções diferentes. Isto o fará ver o panorama geral do trecho, e saber os argumentos usados.
2- Anote tudo que conseguiu achar sobre os endereçados e seu problema. Nesta etapa poderemos ser bastante detalhistas.
3- Anote as palavras-chave e frases repetidas de Paulo. Isto indica o conteúdo de sua resposta.

Uma das razões para escolhermos este trecho, além do sério problema de divisão que enfrentavam, o começo deste trecho parece não se encaixar no contexto. Notem que Paulo começa a expor a situação, o problema (1:10-12), porém, no começo de sua resposta, ele não continua se referindo ao problema (1:18-3:4). Apenas na conclusão, há a ligação do conceito de “sabedoria” e “gloriar-se nos homens”, que são as idéias chaves neste trecho, com o fato da divisão da igreja entre partidários de Paulo, Apolo e Cefas. Vamos ver como todas essas idéias se encaixam.

Para começar, Paulo diz claramente que eles estão divididos de acordo com seus líderes (3:4-9; 3:21-22; 4:6). Mas, a questão não era apenas uma mera diferença de opinião entre eles. Eles estavam realmente disputando entre si, um querendo ser mais que o outro (4:6).

Tudo isto parece estar bem claro, numa primeira visão. Porém, olhando com mais cuidado vemos que os problemas eram um pouco mais graves do que realmente parecia. Vejamos pelos menos duas coisas que ficam claras quando prestamos um pouco mais de atenção ao texto.

1-     Lendo 4:1-5 fica claro que havia uma queixa contra o próprio Paulo. Ou seja, não era apenas uma questão de prefer6encia entre Paulo ou Apolo, mas havia os que eram contra Paulo e os que eram a favor de Paulo.
2- A palavra chave neste trecho é sabedoria ou sábio. Ela ocorre 26 vezes entre os capítulos 1 a 3, e apenas 18 vezes no restante das cartas de Paulo juntas. Deus deixou a sabedoria do mundo de lado (1:18-22; 1:27-28; 3:18-20). Cristo, por meio da cruz, se tornou sabedoria da parte de Deus (1:30). Esta sabedoria é revelada pelo Espírito, para aqueles têm o Espírito. O emprego da palavra sabedoria, neste argumento, nos faz pensar que Paulo fazia parte do problema. No mínimo podemos supor que, em nome da sabedoria, os coríntios estão levando sua idéia de divisão à frente. Como eles eram muito cultos e filósofos, tinham uma idéia da fé cristã como sendo uma nova “sabedoria divina”, e julgaram Paulo de acordo com esta sabedoria puramente humana.

Com base na resposta de Paulo podemos enumerar três coisas:

1-     3:5-23 mostra que os coríntios entenderam de modo errado a função da liderança na igreja.
2- De acordo com 1:18 a 3:4, eles entenderam de forma errada a natureza básica do evangelho.
3- Com base em 4:1-21 seu modo de julgar a Paulo também estava errado.

Feitas estas distinções podemos agora nos concentrar na análise da resposta de Paulo.

4  O contexto literário

O próximo passo então é seguir a argumentação de Paulo em I Coríntios 1:10 – 4:21 parágrafo por parágrafo, e em uma ou duas frases explicar cada parágrafo dentro do argumento todo de Paulo. Algumas perguntas precisam ser feitas neste estágio:

1- Resumidamente, o que Paulo diz neste parágrafo?
2- Por que Paulo diz isso?
3- Como este conteúdo contribui com argumento todo?

Para ilustrar, vamos tomar a parte principal da resposta de Paulo, que se encontra em 3:5-16. Até aqui Paulo havia dito que a essência do Evangelho, um Messias crucificado, era contrária à sabedoria humana (1:18-25); assim como a escolha deles para pertencerem ao povo de Deus. É como se Paulo estivesse dizendo, em outras palavras: “Quem, em nome da sabedoria humana, teria escolhido vocês para se tornarem povo de Deus? “.

Notem que Paulo trata o poder de Deus também como sabedoria (2:1-7). Porém é uma sabedoria revelada por Deus, não descoberta pelos homens, para quem tem o Espírito de Deus (2:6-16). Neste ponto, Paulo faz um apelo, pois eles têm o Espírito de Deus, então deveriam parar de agir como aqueles que não possuem o Espírito de Deus.

Agora, como os parágrafos que se seguem funcionam neste argumento de Paulo?

1-     3:5-9

2-

Trata da natureza e da função dos líderes da igreja. Paulo diz que são meros servos, e não senhores. Nos versículos 6 a 9 ele ensina duas lições:

Œ Tanto Paulo quanto Apolo estão unidos numa coisa comum, única, mesmo que suas tarefas sejam diferentes.
 Tudo e todos pertencem a Deus – a igreja, os servos e o crescimento.

2- 3:10-17

A lição aqui é como será edificada a obra, que pode ser para o bem ou para o mal. Aqui, o que está sendo edificado é a igreja. Aqueles que dirigem a igreja devem fazer com cuidado, pois a provação se aproxima. Edificar a igreja com sabedoria humana, com eloquência que contorna a cruz de Cristo é edificar com feno, palha ou madeira.

A lição de Paulo neste contexto é expressar aos coríntios que eles são o templo de Deus naquele cidade, em contraste com os outros templos pagãos existentes. O que os tornava templo de Deus ali, era o fato de vivierem em comunhão com o Espírito Santo. Porém, por causa das divisões eles estavam destruindo este templo (a Igreja), que era sagrado para Deus.

Vamos rever as bases do argumento de Paulo, que neste ponto se completou:

ð Paulo desmascarou a compreensão incorreta que os coríntios tinham do evangelho.
ð Paulo desmascarou a compreensão incorreta que os coríntios tinham da liderança da igreja.
ð Paulo advertiu os líderes, bem como a própria igreja sobre o julgamento divino contra os que promovem divisões.

E no final (3:18-23), Paulo junta todos os temas abordados nesta argumentação, como uma conclusão.

5  Reforçando

A fim de adquirirmos prática, vamos ver uma passagem fora de I Coríntios, mas que também fala sobre a falta de união na igreja.

Leiamos Filipenses 1:27 – 2:13.

Vamos fazer uma rápida revisão de Filipenses:

ð Paulo está na prisão (1:13-17)
ð Igreja de Filipos enviou uma oferta através de Epafrodito (4:14-18)
ð Epafrodito ficou doente e a igreja se entristeceu (2:25-30)
ð Deus o poupou e Paulo o envia de volta (2:25-30)
ð Epafrodito volta com a carta para os Filipenses a fim de:

Œ Contar aos membros como ele está
 Agradecer-lhes a oferta
Ž Exortá-los a viver em harmonia (1:27 – 2:17; 4:2-3) e evitarem a heresia judaizante (3:1 – 4:1)

Notem que até o versículo 26 Paulo está falando sobre ele mesmo, como está na prisão. Mas no versículo 27 ele muda o contexto para os filipenses. Qual é então a razão de ser de cada parágrafo nesta seção?

O primeiro parágrafo, 1:27-30, começa a exortação. A lição, o resumo parace ser a que lemos no versículo 27: “ficar firmes num só espírito”. Ou seja, uma exortação à união, pois estavam enfrentando oposição.

Como que 2:1-4 se relaciona com a união? Primeiramente Paulo repete a exortação, porém a lição aqui é que a humildade é a atitude para os crentes viverem em união.

Qual é a lição no parágrafo 2:5-11? Jesus em sua encarnação e morte é o exemplo máximo de humildade que devemos ter.

E por fim, qual a lição de 2:12-13? Esta é claramente a conclusão. Notem as expressões nas diversas traduções da Bíblia: “Assim pois”, “Portanto”, “De sorte que”. Tendo o exemplo de Cristo, devem obedecer a Paulo. Em que? Em terem unidade, que também requer humildade.

Concluída esta análise, podemos verificar que o problema de união em Filipos era, com certeza, muito menos grave do que em Corinto.

6 As passagens problemáticas

Até aqui vimos o processo normal de análise de um texto. Vimos como fica mais fácil se lemos a passagem em parágrafos. Mas, existem textos que em uma primeira análise nos parece dificil, e até mesmo contraditório. O que fazer quando nos deparamos com passagens como estas:

o significado de “por causa dos anjos” em I Coríntios 11:10
“os que se batizam por causa dos mortos” em I Coríntios 15:29
Cristo pregando aos “espíritos em prisão” em I Pedro 3:19
o “homem da iniquidade” em II Tessalonicenses 2:3

1- Em muitos casos a razão dos textos nos parecem tão difíceis é que não foram escritos diretamente para nós. Ou seja, o autor e seus leitores estavam sintonizados, tinham a mesma cultura, desta forma o escritor podia pressupor algumas coisas por parte de seus leitores. Um exemplo é quando Paulo escreve aos Tessalonicenses : “Não vos lembrais de que eu vos dizia estas coisas…”. Então, muitas vezes, também devemos nos contentar em saber aquilo que Deus quis nos revelar, aquilo que Ele quer que saibamos.

2- Mesmo que não saibamos o trecho específico, muitas vezes a lição do parágrafo ainda está ao nosso alcance. Então, seja o que for que levou os coríntios a se batizar em nome dos mortos Paulo os ensina que eles não estavam sendo consistentes ao rejeitarem uma ressurreição futura dos crentes.

3- Quanto às incertezas de determinado trecho temos aque aprender a perguntar o que pode ser dito sobre o mesmo com certeza, e aquilo que é possível, mas não certo. Na passagem do batismo pelos mortos a certeza que temos é que isto estava sendo realizado, e Paulo simplesmente se refere a ela.

4- Nestes casos sempre será necessário consultarmos um bom comentário bíblico. Consulte vários, talvez você não concorde com aquele autor especificamente, mas é sempre bom conhecermos todas as opções dadas a determinada questão.

No mais, até mesmo os mais estudiosos nunca terão todas as respostas. E em parte isto é bom para que conservemos nossa humildade e para que reconheçamos e experimentemos a verdade de Deuteronômio 29:29.