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Josué – Com o pé na promessa – Aspectos teológicos

Introdução

O livro de Josué conta a transição da liderança no povo eleito. Moisés estava morto e Deus escolhe Josué para comandar a entrada dos hebreus na terra da promessa.

É importante lembrar que estes relatos não nos mostram apenas a história acontecida, mas nos revela também os aspectos teológicos decorrentes do plano universal de Javé para seu povo.

O principal aspecto teológico que devemos observar é o cumprimento da promessa de Javé a seu povo. A promessa envolvia a descendência numerosa de Abraão e a volta à terra de Canaã, que estava na iminência da realização.

Este aspecto teológico é tão importante que são dedicados 10 capítulos (13 a 22) sobre a divisão das terras entre as tribos de Israel.

Outro aspecto importante é a recorrência do pecado entre o povo. Mal haviam entrado na terra prometida e começaram a desobedecer às ordens de Javé quando fizeram acordos com os povos nativos. Todo o capítulo 9 é dedicado a este fato.

Com estes conceitos em mente devemos desfazer duas concepções errôneas sobre o livro.

  • Um general corajoso, temente a Deus, que conquista a Terra de Canaã.
  • Um relato militar do processo da conquista de Canaã

Na primeira concepção, o livro carece de detalhes sobre a vida de Josué para ser considerada uma obra biográfica, e, na segunda concepção, vemos claramente que as poucas estratégias mencionadas são de Javé, não de Josué. Logo, o destaque é para a ação de Javé na história, usando seu povo eleito.

Em resumo: o livro nos mostra a fidelidade de Javé em cumprir a promessa feita a Abraão, realizando, desta forma, sua parte na aliança.

Temas teológicos principais

Na leitura do livro podemos identificar alguns aspectos importantes sobre o caráter de Deus e seus propósitos. Devemos estar atentos para o fato de que Deus, e não o homem, é o foco do nosso estudo.

Além da fidelidade de Javé à aliança estabelecida com Abraão, outro tema que merece destaque especial é a relação entre o povo e a terra. A terra era a prova visível da eleição do povo por Deus. Israel havia sido liberto da escravidão no Egito, passaram pelo processo de tornar-se uma nação em meio ao deserto durante 40 anos, e, agora estavam na iminência de ter este processo completado pela conquista da terra. O pior castigo que Deus poderia dar ao povo era a expulsão da terra, que viria de fato acontecer. A promessa de restauração do povo sempre incluía a volta à terra.

Outro tema que se destaca, para nossa compreensão do caráter de Javé, é que ele é poderoso. Não há como tirar o elemento miraculoso dos relatos sem prejudicar nossa compreensão deste fato. Javé usa a criação como meio de mostrar seu poder a todos, uma vez que os cananeus criam que seus deuses detinham todo poder. Deus intervém na história de forma soberana a fim de cumprir seu propósito.

A imagem do guereiro divino também é patente em Josué, pois é descrito combatendo pelos israelitas. Ou seja, a vitória não é do homem, mas de Javé.

A arca simbolizava a presença de Deus no meio do seu povo, e isso implicava em alguns limites que deveriam ser obedecidos. Deus requeria a santificação do seu povo, pois não poderiam seguir a Deus de qualquer maneira.

Um tema que nos causa estranheza é a consagração para destruição, ou, em hebraico HEREM. Esta ordem é encontrada em Deuteronômio 7:1-11 e estabèlecida em Josué 6:17-19. As escrituras nos apontam, ainda em Gênesis, que a maldade dos cananeus ainda não havia atingido seu limite diante de Deus. Logo, Deus deu oportunidade por 4 séculos para este povo se arrepender. Além disso, os cananeus tinham práticas repugnantes como prostituição cultual e sacrifício infantil. Portanto este povo não era simplesmente inocente e Javé executou seu juízo, da forma que viria a executar contra Israel e Judá no futuro.

Gênesis – O chamado de Abrão

No trecho entre os capítulos 3 a 11 de Gênesis, vemos as consequências do pecado em toda a humanidade, ninguém ficou ileso ou inocente.

A partir do capítulo 12 temos uma divisão na história apresentada na Bíblia. Este é um capítulo chave para compreendermos a Teologia do Antigo Testamento, e, por consequência, entender a Teologia Bíblica de forma geral.

Até aqui testemunhamos a maldição que a terra e a huminadade receberam por terem pecado; não porque Deus fosse um deus mau, mas sim um Deus justo e soberano de sua criação. O ser humano se afastara do propósito para o qual fora criado. E sofreu as dores de suas decisões, baseadas em seu “livre arbítrio”, que o levou ao pecado.

Mas, como Deus é Deus de amor e misericórdia, a partir deste capítulo, começamos a notar o uso constante da palavra bênção, que se torna, desta maneira, uma palavra chave neste contexto.

Até Gênesis capítulo 11 Deus trabalha com a humanidade de forma geral. A partir do capítulo 12 Deus trabalhará com um indivíduo, no caso Abrão.

É curioso notar que, mesmo trabalhando com um indivíduo, a benção se estende a toda humanidade. Logo, concluímos que, o método de Deus mudou, mas não o seu propósito, não sua finalidade para com a raça humana.

 

De toda terra para Abrão. De Abrão à toda terra.

De toda terra para Abrão. De Abrão à toda terra.

Abrão, sendo chamado por Deus, pode ter sido o primeiro de sua família a romper com as raízes politeístas. Temos uma pista disso em Josué 24:2.

Podemos analisar a promessa de Deus a Abrão dividindo-a em 7 partes, de acordo com os verbos que aparecem no texto:

1-      Fazer dele uma grande nação
2-      Abençoar Abrão – neste caso inclui também as bênçãos materiais
3-      Engrandecer o nome de Abrão
4-      Ser benção – Ele será abençoado para abençoar outros, e não reter as bênçãos para si próprio
5-      Abençoar os que o abençoarem
6-      Amaldiçoar os que o amaldiçoarem
7-      Abençoar todas as famílias da Terra.

Podemos interpretar o movimento missionário mundial hoje como fruto desta benção a Abrão.

A partir daí, as narrativas de Gênesis giram em torno do cumprimento da promessa, ou das ameaças ao cumprimento da promessa.

Podemos perceber que Gênesis tem a preocupação de mostrar como esta promessa foi transmitida de geração a geração.

O padrão das teofanias – aparecimento de Deus – à família, e descendentes de Abrão, se repete ao longo das narrativas em Gênesis.

Note, no quadro abaixo, a repetição (renovo) da promessa, feita por Deus, aos descendentes de Abrão:

Isaque – Gn. 26 Jacó Gn. 28
Deus seria com ele – v. 3 Deus seria com ele – v. 15
Herança das terras – v. 3 Herança das terras – v. 13
Todas as nações serão benditas por meio da sua descendência – v. 4 Todas as famílias da terra serão benditas por meio da sua descendência – v. 14
Seu pai Abraão havia obedecido a Deus – v. 5 Deus de seu pai, Isaque; e seu avô, Abraão v. 13
Era peregrino – v. 3 Era peregrino – v. 15
Descendência multiplicada – v. 4 Descendência multiplicada – v. 14
Confirmação da promessa – v.3 Confirmação da promessa – v.15
Deus apareceu a ele – v. 2 Deus apareceu a ele – v. 13

Deus cuidou desta familia por séculos, para manter suas promessas. Deus renovava sua presença aos homens.

Então, em Gênesis capítulo 12, na primeira parte, lemos sobre o estabelecimento da promessa; e, a partir da segunda parte do capítulo 12, os obstáculos à realização da promessa.

Hoje nós temos o quadro completo, e olhando para trás podemos ver como Deus cuidou desta família, como Deus preparou todos os eventos que culminariam na realização da promessa.

Isto não foi feito por nossa própria causa, mas sim, por causa da fidelidade de Deus à sua própria palavra, pois ele não pode negar-se a si mesmo.